O
termo dessacralização é sinónimo de secularização e, primitivamente,
significava a permuta da posse de bens e instituições, como a civil e a
educação, por exemplo, da igreja para o Estado. Atualmente, este
vocábulo faz referência ao efeito de perder o caráter sagrado, ou seja, a
sociedade mundial está a libertar-se do domínio religioso. Como tal,
este situação tão presente no nosso quotidiano tem causas e
consequências.
As
sociedades Ocidentais, sobretudo as europeias, vivem num período de
tolerância religiosa. Hoje em dia, a sociedade privilegia os valores
materiais em detrimento dos valores espirituais. A ciência tem vindo a
ocupar o lugar da religião como fonte de verdade. A falta de cumprimento
dos votos pelos líderes religiosos como responsáveis por ensinar a
doutrinas aos crentes da religião, como por exemplo, os casos de
pedofilia praticados por padres, ou o facto dos sacerdotes e freiras já
não cumprirem o voto de pobreza e começaram a ser egoístas, vivendo, por
vezes, rodeados de luxo. Estes atos levam os crentes a sentirem-se
repugnados, sendo este um dos motivos impulsionadores da dessacralização
do Mundo e dos povos. Os vários regimes políticos, principalmente os de
matriz marxista-leninista, difundiram uma perspetiva materialista da
realidade, acabando por modificar a hierarquia de valores da sociedade.
Em certos locais como a China e o continente Africano, a sacralização é
um pretexto para a realização de atentados à vida humana, como a
mutilação genital feminina, de modo a que esta não possa sentir prazer
durante o ato sexual, tornando a dessacralização um ponto positivo
nestas sociedades. As diversas vertentes da Religião apresentam uma
doutrina. Cada vertente tem um conjunto de valores, tradições e costumes
pelos quais os seus crentes se devem guiar. Assim sendo, quando um
indivíduo não crê em nenhuma religião, o acesso ao conjunto de valores é
mais difícil mas, como se encontra integrado numa sociedade onde a
maioria dos indivíduos é crente, a convivência entre os crentes e
não-crentes levará à homogeneidade da sociedade. Porém, quando a maioria
de uma sociedade são ateus, a obtenção de princípios que os levarão a
viver bem em sociedade será ainda mais difícil. Então, pode-se dizer que
a dessacralização do Mundo leva à perda de valores e à impossibilidade
de se atingir a felicidade plena. Na vida humana estão constantemente a
surgir questões que nem a ciência, um grande impulsionador da
dessacralização do Mundo, consegue responder. Pode-se tomar como exemplo
questões relacionadas com o bem e o mal ou a vida e a morte. Perante
esta situação, o Homem percebe que a ciência não responde a tudo, nem
consegue solucionar todos os seus problemas. Aí se dá a ressacralização,
onde a razão e a fé tentam conciliar-se e equilibrar-se.
O
Homem é um ser religioso por natureza e procura na religião a
felicidade. Com a dessacralização, os indivíduos que se emanciparam da
tutela do sagrado não conseguem encontrar a felicidade plena,
tornando-os seres infelizes. É por esta razão que, nos últimos anos, se
tem verificado um ligeiro retrocesso da secularização, que também se
deve ao aumento do diálogo inter-religioso e da ligação entre a fé e a
razão.
Joana Ferreira, nº15, 10ºE